domingo, 23 de abril de 2017

Entrevista (Narrativa 3) - Questões de leitura e experiência escolar da terceira idade

      Dona Hermínia Santos Peixoto de Moraes tem 69 anos, nasceu e viveu grande parte de sua vida na cidade de Maceió-AL, tem seis filhos e nove netos, e mora atualmente no município de Marechal Deodoro, e é minha avó materna.
      Decidi dividir essa entrevista em dois blocos que acabaram se mesclando no decorrer do processo, uma relativa à leitura e escrita, e a outra à sua vida escolar. Comecei por questioná-la sobre seus hábitos de leitura atuais, para que, depois, pudesse voltar aos acontecimentos passados.
      Para começar, perguntei se ela hoje em dia possuía algum hábito de leitura, de qualquer tipo. Ela me respondeu que gostava de ler notícias, pois sempre gostou muito de telejornais, e agora que tem um smartphone e utiliza o Facebook e Whatsapp consegue se manter melhor informada lendo notícias que aparecem em seu feed, indo a matérias sobre notícias do mundo inteiro, com interesse particular em notícias locais. Porém diz ter perdido o interesse pela literatura, algo que nunca foi assíduo a ela, apenas leu poucas obras na vida e nunca teve na leitura um meio de lazer. Leu alguns romances, citou Jorge Amado e algumas obras clássicas como Iracema, inclusive hoje, sendo aposentada e tendo uma vida mais ociosa, que lhe permitiria se dedicar a essa atividade de lazer, acaba por não fazê-lo, optando por assistir filmes nas horas vagas.
       Quando fomos para a parte sobre sua educação, ela respondeu que terminou apenas o ginásio, que equivaleria hoje ao ensino fundamental, tinha na época 17 anos. Quando lhe perguntei por que havia concluído o fundamental com uma idade de certa forma avançada, ela me disse que na época era bastante diferente e que começou a estudar com 7 anos, algo hoje impensável na maioria dos casos. Posteriormente quando já estava casada e com quatro dos seis filhos que teria, decidiu voltar e tentar concluir o ensino médio, mas, quando estava no terceiro ano, acabou saindo por conta de outra gravidez e por conta disso desistiu de vez.
     Continuei a pedir mais detalhes do que mais se lembrava da escola, matérias que gostava e coisas do tipo. Ela falou que gostava muito de matemática, ciência, história e francês, que à época, era o idioma obrigatório das escolas públicas, mas que detestava língua portuguesa. Contou algumas curiosidades sobre seu tempo na escola, principalmente porque ela chegou a estudar durante o início da ditadura militar. Ela falou que as relações entre alunos e professores era muito diferente do que ela percebe hoje em dia e não sabe dizer se é melhor ou pior, pois lembra-se de que jamais se podia questionar a autoridade de um professor em sala de aula, não se podia entrar na sala depois do professor. O dever do aluno era esperar o professor dentro da sala, todos deviam cantar o hino antes do início das aulas e deveriam estar todos seguindo devidamente as regras de fardamento. Chegou a estudar em uma escola só de moças durante o fundamental, disse que isso ainda era comum na época, mas falou que não havia nenhuma matéria específica para aquele tipo de escola, apenas lembrou-se de que havia a matéria de música, que era obrigatória, mas que não era apenas para as moças, todas as escolas tinham.
Alunos cantando o hino nacional em escola do tempo da ditadura.

      Acabei lhe perguntando sobre seus sonhos e planos que tinha na época, num sentido acadêmico, ela falou que mudou muito de ideia na época e um dos que se lembra era ter cursado medicina, mas que chegar a uma faculdade nessa época era algo inalcançável, principalmente porque só havia uma única faculdade pública em Maceió e pelas condições financeiras não serem favoráveis. Perguntei também se ela, hoje, considerando a idade que tem, pretende voltar a estudar, e ela falou que não, que era uma opção pessoal e não tinha somente a ver com a idade. Quanto à leitura, ela me diz que pretende começar a ler mais, algo que tenho tentado incentivá-la a fazer.

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