Dona Hermínia Santos Peixoto de Moraes tem 69 anos,
nasceu e viveu grande parte de sua vida na cidade de Maceió-AL, tem seis filhos
e nove netos, e mora atualmente no município de Marechal Deodoro, e é minha avó
materna.
Decidi dividir essa entrevista em dois blocos que
acabaram se mesclando no decorrer do processo, uma relativa à leitura e
escrita, e a outra à sua vida escolar. Comecei por questioná-la sobre seus
hábitos de leitura atuais, para que, depois, pudesse voltar aos acontecimentos
passados.
Para começar, perguntei se ela hoje em dia possuía
algum hábito de leitura, de qualquer tipo. Ela me respondeu que gostava de ler
notícias, pois sempre gostou muito de telejornais, e agora que tem um smartphone e utiliza o Facebook e Whatsapp consegue se manter
melhor informada lendo notícias que aparecem em seu feed, indo a matérias sobre notícias do mundo inteiro, com
interesse particular em notícias locais. Porém diz ter perdido o interesse pela
literatura, algo que nunca foi assíduo a ela, apenas leu poucas obras na vida e
nunca teve na leitura um meio de lazer. Leu alguns romances, citou Jorge Amado
e algumas obras clássicas como Iracema, inclusive hoje, sendo aposentada e tendo
uma vida mais ociosa, que lhe permitiria se dedicar a essa atividade de lazer, acaba por
não fazê-lo, optando por assistir filmes nas horas vagas.
Quando fomos para a parte sobre sua educação, ela
respondeu que terminou apenas o ginásio, que equivaleria hoje ao ensino
fundamental, tinha na época 17 anos. Quando lhe perguntei por que havia
concluído o fundamental com uma idade de certa forma avançada, ela me disse que
na época era bastante diferente e que começou a estudar com 7 anos, algo hoje
impensável na maioria dos casos. Posteriormente quando já estava casada e com quatro dos seis filhos
que teria, decidiu voltar e tentar concluir o ensino médio, mas, quando estava
no terceiro ano, acabou saindo por conta de outra gravidez e por conta disso desistiu de vez.
Continuei a pedir mais detalhes do que mais se
lembrava da escola, matérias que gostava e coisas do tipo. Ela falou que gostava
muito de matemática, ciência, história e francês, que à época, era o idioma
obrigatório das escolas públicas, mas que detestava língua portuguesa. Contou
algumas curiosidades sobre seu tempo na escola, principalmente porque ela
chegou a estudar durante o início da ditadura militar. Ela falou que as
relações entre alunos e professores era muito diferente do que ela percebe hoje
em dia e não sabe dizer se é melhor ou pior, pois lembra-se de que jamais se podia questionar a autoridade de um professor em sala de aula, não se podia
entrar na sala depois do professor. O dever do aluno era esperar o professor
dentro da sala, todos deviam cantar o hino antes do início das aulas e deveriam estar todos seguindo devidamente as regras de fardamento. Chegou a estudar em uma escola só de moças durante o
fundamental, disse que isso ainda era comum na época, mas falou que não havia
nenhuma matéria específica para aquele tipo de escola, apenas lembrou-se de que
havia a matéria de música, que era obrigatória, mas que não era apenas para as
moças, todas as escolas tinham.
Alunos cantando o hino nacional em escola do tempo da ditadura.
Acabei lhe perguntando sobre seus sonhos e planos
que tinha na época, num sentido acadêmico, ela falou que mudou muito de ideia
na época e um dos que se lembra era ter cursado medicina, mas que chegar a uma
faculdade nessa época era algo inalcançável, principalmente porque só havia uma
única faculdade pública em Maceió e pelas condições financeiras não serem favoráveis. Perguntei
também se ela, hoje, considerando a idade que tem, pretende voltar a estudar, e
ela falou que não, que era uma opção pessoal e não tinha somente a ver com a
idade. Quanto à leitura, ela me diz que pretende começar a ler mais, algo que
tenho tentado incentivá-la a fazer.
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